Testemunho de Ivani Greppi
Ex-médium Umbandista Transformada pelo Salvador

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O meu povo foi destruído, por falta de conhecimento” (Oséias 4:6).

Em 1997, um pastor missionário do Brasil visitou a Gráfica Pyramid que pertencia aos meus pais em Kissimmee, Flórida. Deus usou esse evento casual—uma simples encomenda de cartão de visitas—para nos libertar de gerações de práticas ocultas. Este é um resumo do que minha família e eu passamos durante décadas de enganos por Satanás através da prática do espiritismo.

Meus pais, irmã, e eu nascemos no Brasil. Nossos antepassados Europeus, trouxeram com eles ao Novo Mundo, crenças e rituais ocultos praticado durante gerações antes deles. Eu me tornei uma médium espírita da quarta geração no Brasil.

Ivani com cinco anos de idade

Os avós paternos do meu pai vieram da Itália. Sua avó Siciliana era uma curandeira que usava poções, ervas e encantamentos para curar doenças, bem como danos espirituais causados por maldições e “mau-olhado”. O pai do meu pai, tinha fortes habilidades psíquicas. Quando menino, ele alertou seus pais sobre uma raposa que tinha matado todos porquinhos do chiqueiro. Mas quando seus pais foram verificar, os porquinhos mamavam intactos ao lado da porca. Mais tarde, a cena repetiu, no entanto, desta vez, a família testemunhou a raposa em fuga com um porquinho pendurado em sua mandíbula, depois de ter matado toda a ninhada como meu avô previu. Uma das visões do meu avô até salvou a vida de um homem que desapareceu depois que seu cavalo voltou para casa sozinho. Ele descreveu com precisão a área onde o homem ficou ferido depois que seu cavalo se assustou por uma cascavel no caminho.

Os antepassados de minha mãe, imigraram para o Brasil da Espanha. Todos praticavam espiritismo. Minha bisavó, avó e avô maternos eram médiuns. Familiares, vizinhos e amigos traziam seus filhos doentes a casa deles para serem benzidos, ou para receber passes de energia espiritual. As curas incluíam problemas espirituais, febre, mau-olhado, e até mesmos vermes intestinais. Chás, banho de defesa, defumação, e velas acesas em homenagem a guias espirituais e anjos da guarda era recomendado para ajudar nas curas.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, por Allan Kardec era nossa “bíblia”. Este educador Francês nos anos 1800, codificou o espiritismo. Uma de suas missões foi esclarecer os ensinamentos de Jesus “incorretamente” traduzidos na Bíblia. Nós acreditávamos em reencarnação e vivíamos em comunhão com espíritos em relação ao mundo corpóreo através do mantra de Kardec:

Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.

Nós dizíamos que éramos católicos, mas apenas para fins tradicionais: Casamentos, batismo das crianças, e missas de sétimo dia para os mortos. Na realidade, nós rejeitávamos a religião tradicional, e não acreditávamos no céu ou inferno. Crentes que iam de porta-a-porta para evangelizar não eram bem vindos. Quando eles paravam no nosso portão batendo palmas, anunciando sua presença, eram desprezados.

Quando voltei para viver no Brasil com quatorze anos, fui doutrinada em um templo de Umbanda onde comecei meu desenvolvimento mediúnico. Até a idade de 38 anos quando conheci o pastor Brasileiro nos Estados Unidos, nunca tinha lido a Bíblia antes, muito menos ouvido falar sobre a Salvação eterna em Jesus Cristo. Nós não éramos malignos. Nós realmente acreditávamos que comunicação com os espíritos vinha de Deus. E nossas habilidades psíquicas, um dom Dele.

EXPOSIÇÃO INFANTIL AO OCULTO

Entre ti se não se achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte um espirito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos” (Deuteronômio 18:10-11).

Tinha cinco anos de idade. Mais uma vez fui desperta de um sono inocente. O tipo de sono que só as crianças experimentam. Com olhos arregalados, olhava para um mar de escuridão profunda. No vazio, alguém ou algo estava pairando perto do nosso sofá-cama. Observando furiosamente. O medo arranhava meu coração. Um calafrio percorria todo meu corpo. Com muito medo de piscar, e ao mesmo tempo aterrorizada para ver o que estava por trás da escuridão, eu tentava gritar. Somente gemidos baixos escapavam de meus lábios. O ar travou na minha garganta. Meus pulmões queimavam por oxigênio. Pensava: Estou morrendo? Minhas cordas vocais e músculos estavam completamente paralisados. O único movimento possível era através das minhas pálpebras: Piscando, apertando, arregalando os olhos.

Estava mais perto. Ameaçando. Cruel. Hostil. Uma malignidade palpável enchia a atmosfera. Enquanto eu lutava com cadeias invisíveis sufocando-me, minha irmã se agitava no sono. Escutava a respiração suave dela, e o pulsar de sangue batendo contra meus tímpanos. Finalmente, me libertei. Um grito quebrou o silêncio. Demorou um segundo para perceber que quem gritava era eu. Tremendo, sentei chamando por minha mãe. E através da penumbra via silhuetas na sala: Uma cadeira, a televisão com antena em cima, e o console de vitrola do papai, onde uma figura sombria recuava, atravessando a parede.

Minha irmã acordou num pulo e abraçou meu corpo trêmulo. Sentia sua voz morna contra meu rosto dizendo, “Não chora…mamãe já vem”.

Uma porta abriu, e fechou com um clique. A luz do corredor acendeu. Os chinelos da minha mãe batiam no chão com passos apressados, e entrando na sala, me aquietava. Só depois de muitos beijos e abraços, finalmente me acalmei. “Vou buscar um copo de água com açúcar. E amanhã você vai ver. Vovó vai fazer esses vultos irem embora, tá bom?”

Vultos são aparições espirituais, ou encostos. No espiritismo, são descritos como espíritos desencarnados, ou espíritos errantes. Minha avó dizia mesmo que os espíritos que me assustavam, eles não queriam me fazer mal. Como eu era vidente, então era apenas um instrumento usado pelos espíritos para comunicação. Quando amadureceria fisicamente, emocionalmente e mentalmente, eu estaria pronta para me desenvolver como uma médium. Essa era minha missão aqui na terra.

Naquele dia, a vovó me pegou no colo e me benzeu. Com o polegar ela fazia cruzes sobre minha cabeça, testa, costas e peito enquanto dizia palavras que eu não entendia. Estalava os dedos por cima da minha cabeça curvada, minha franja como uma fina cortina cobria meus olhos. Eu olhava para o piso feito de cacos vermelhos de cerâmica colocados peça-a-peça por meu pai. Embaixo da mesa, ele fez um padrão de mosaicos de cacos coloridos em formato de uma estrela de cinco pontas.

Vovó bocejava. Lágrimas escorriam sobre o pó de arroz que ela passava no rosto todas as manhãs. “Pronto. Está tudo bem,” sorrindo ela acariciava meus cabelos com as duas mãos dizendo, “agora você só precisa um raminho de arruda atrás da orelha para te proteger.”

OS VULTOS

Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos? (Isaías 8:19).

Conforme crescia, continuava vendo vultos, ou sentia presenças ameaçadoras (encostos) me seguindo por toda parte. Dia e noite. Na escola ou quando brincava. Os rituais faziam pouco ou nenhum impacto porque os espíritos constantemente me torturavam. Nunca podia estar só. Minha irmã estava cansada de me acompanhar sempre que eu tinha que entrar em um quarto, inclusive no banheiro. Quando não tinha outra alternativa, e entrava sozinha em algum lugar, marcas roxas nos meus braços e pernas eram evidências da reação de “luta ou fuga”. Não era possível lutar contra o invisível. Fugindo das ameaças, eu batia contra paredes e móveis, tropeçava e caia quando as forças invisíveis me empurravam, me jogando para todos lados.

Durante as férias do meu segundo ano escolar, minha mãe me levou para passar uma semana com a sua avó e tia paterna. Eu odiava ir lá, mas nunca falava isso para meus pais. A casa estava sempre cheia de sombras, mesmo em dias ensolarados. Mas o que mais me assustava nesse lugar eram os dois cães ferozes Pastor Alemão, acorrentados atrás de uma cerca no fundo do quintal.

Depois do jantar naquela primeira noite, fiquei parada de trás da porta de rede na cozinha observando minha tia-avó dando restos de comida para os cães. A tarde estava caindo, e o céu tornava um tom arroxeado, projetando sombras lilases sobre o quintal. Pássaros picavam cascas de mamão descartadas no grama ao lado do jardim. Os cachorros puxavam com força as suas correntes, expondo seus dentes pontudos salivando sobre a comida sendo colocada em suas tigelas.

Minha atenção desviou com o ranger do portão na frente da casa. O medo apoderou de mim quando vi um homem de meia idade entrar no quintal. Usando um terno preto com gravata, seus sapatos engraxados batiam no corredor de ladrilhos. A fumaça de seu cigarro ondulava sobre seus cabelos escuros e lustroso.

Como foi que ele abriu o portão que estava sempre trancado? Porque os cães não latiam? Rapidamente ele aproximava o corpo curvado da minha tia-avó. Sem perceber o intruso, ela acariciava as cabeças dos cães enquanto eles devoravam sua comida.

Quando tentei gritar para avisá-la, fiquei paralisada. Era o mesmo tipo de paralisia que acontecia quando despertava do sono. Me esforçava para gritar, minha boca estava aberta, mas minha voz não saia. Com os braços estendidos, o homem abaixava para abraçá-la. Mas antes de tocar nela, ele desapareceu em um sopro de fumaça.

Na manhã seguinte, minha bisavó me levou para ver uma amiga que era médium. Ela queria saber se o espirito do homem que eu tinha visto era seu falecido marido que vinha visitar sua filha. O guia espiritual da médium confirmou que era seu marido, e pediu para minha avó dizer a minha mãe que me levasse a um centro espírita de Mesa Branca em nossa vizinhança para aconselhamento em meu desenvolvimento espiritual.

Nas reuniões de Mesa Branca, os médiuns sentavam em volta da mesa coberta com uma toalha de linho branco, um vaso com rosas brancas, uma jarra de água e alguns copos colocados no centro da mesa. Os “pacientes” sentavam em cadeiras encostadas na parede. O Centro estava sempre cheio de pessoas procurando orientação dos guias espirituais a respeito de doenças, relacionamentos, finanças, e assuntos espirituais.

Antes da sessão iniciar, eu olhava para um quadro de Jesus Cristo abençoando um menino ajoelhado a seus pés. Ao redor da sala as prateleiras tinham várias estátuas: São Jorge matando o dragão, São José segurando o bebê Jesus, a Virgem Maria, e a Nossa Senhora Aparecida—a venerada Madonna negra, santa padroeira do Brasil. Velas lançavam sombras trêmulas e alongadas sobre as paredes. O doce perfume de incenso penetrava a atmosfera.

Através de tilintadas de uma cortina de contas, a médium entrou na sala vestida de branco. Ela estava acompanhada por três outros médiuns também vestidos como médicos.

Os médiuns sentaram ao redor da mesa, e a sessão iniciou com orações convidando os guias de luz para se juntar a nós. Gemendo, a médium principal, uma mulher idosa com cabelos azulados, convidava seu guia. De repente, seu corpo convulsou, e a mesa chacoalhou, derramando água da jarra sobre o pano. Os médiuns liam trechos do Evangelho Segundo o Espiritismo. Logo depois das leituras, os “pacientes” posicionavam diante de cada médium para receberem suas consultas espirituais e energia de cura através de passes.

Quando recebi meu passe, a médium repetiu o que minha avó falava por anos. Eu tinha um dom, mas ainda era muito jovem para desenvolver minha mediunidade e receber meu guia espiritual.

Mas não fazia diferença alguma quantas vezes íamos para o centro espírita. Ou nem mesmo que minha mãe seguia perfeitamente todos rituais prescritos pela médium como: defumação da casa, banho de defesa e velas para nos livrar das energias negativas. Os ataques espirituais somente intensificavam conforme eu crescia.

Meus dons psíquicos também aumentavam, criando em mim uma sensação de poder. Minha intuição era forte, e as vezes poderia ler os pensamentos das pessoas. Revelações de coisas quais nenhuma criança deveria ter conhecimento era um fardo que não podia compartilhar com ninguém. Como não era emocionalmente preparada para processar as informações, eu tornei em uma criança ultrassensível e temperamental.

IMIGRAÇÃO PARA A AMÉRICA

Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Genesis 12:1).

Em 1968, depois de muitos anos antecipando o visto, nossa família recebeu permissão para imigrar para América. É uma história complicada de como chegamos neste país, especificamente em Massachusetts. Em resumo, a mãe de meu pai nasceu em Taunton, Massachusetts e viveu lá até os seis anos de idade. Ela eventualmente imigrou para o Brasil com seu pai (sua mãe, minha bisavó, voltou para América depois de separar do meu bisavô), mas ela nunca perdeu a cidadania Americana. Dois anos após a morte de seu marido, minha avó voltou ao seu país de nascimento em 1966, reunindo-se com sua mãe depois de décadas de separação. Dois anos depois, nós embarcamos em busca do Grande Sonho Americano.

Eu tinha nove anos, minha irmã oito quando imigramos. Nos adaptamos bem com a língua Inglesa e com a cultura. No entanto, minha mãe não. Esse era o sonho de meu pai, não o dela. Eles concordaram em viver aqui nos Estados Unidos por cinco anos, trabalhar duro, ajuntar dinheiro, e voltar para o Brasil.

Lidar com meus ataques espirituais neste país não foi fácil. Não havia médiuns ou centros espiritas para procurar ajuda naquela época. Aprendemos logo que nossas crenças não era assunto para discutir abertamente na cultura americana. Minha mãe fazia o melhor possível procurando ervas para banho de defesa e incenso no super mercado. E mantínhamos nossa fé em espiritismo um segredo bem guardado.

Paralisia do sono, vendo espíritos e vultos, ouvindo barulhos e passos na velha casa que morávamos eram ocorrências comuns. Minha avó mandava livros espíritas do Brasil para nossos estudos, e participava na Mesa Branca em nosso nome.

UMBANDA: COMBINAÇÃO DE ESPIRITISMO AFRICANO E CATOLICISMO

Os egípcios ficarão desanimados, e farei que os seus planos resultem em nada. Depois eles consultarão os ídolos e os necromantes, os médiuns e os adivinhos” (Isaías 19:3).

Cinco anos depois da nossa imigração, meus pais nos mandaram de volta para o Brasil para viver com meus avós maternos. Eles voltariam assim que economizassem o suficiente para comprar uma casa. Mesmo que minha irmã e eu tivéssemos o maior entusiasmo para voltar para nossa terra, a América agora era nossa casa também.

Uma noite logo após nosso regresso, enquanto assistia a novela com meus avós, irmã, e primos, eu tive minha segunda experiência de paralisia estando completamente acordada.

Era o momento de destaque do episódio da novela. Pelo canto do olho, eu percebi uma entidade entrar pelo corredor. Meu corpo paralisou. Olhando com horror em silêncio, via a forma translúcida e azulada de um homem idoso entrar na sala de estar. Mesmo sem ouvir o que ele estava dizendo, percebi que ele estava muito nervoso. Suas características franzinas eram surpreendentemente visíveis, mesmo que eu podia ver através dele. Por alguns instantes ele ficou parado, agitando os braços, tentando chamar nossa atenção. Finalmente, com gesto desdenhoso, ele abaixou a cabeça em derrota e saiu da sala.

Quando fui liberada da paralisia, meu grito assustou todos tirando-os dos seus assentos. Quando eu contei através de lágrimas o que tinha acontecido, eles reclamaram. O momento mais esperado da novela foi interrompido. Minha avó estava irritada. Eu percebi quando ela arqueou a sobrancelha.

Nervosa, ela ordenou para que eu a seguisse até a cozinha. Fiquei surpresa quando ela me disse que também tinha visto a entidade. Sua raiva não era porque eu tinha interrompido a novela, mas sim por minha reação de medo por um espirito que pedia ajuda—o avô dela. Sua reprimenda sobre minha imaturidade espiritual doeu profundamente. Porque ela estava irritada comigo por algo que eu não tinha ideia como controlar? Depois de todos esses anos, eu ainda não sabia o que fazer. Ela me aconselhou a estudar os livros de Kardec novamente. E insistiu para que eu participasse das sessões de Mesa Branca para desenvolver minha mediunidade.

Depois de compartilhar essa experiência com duas tias, elas me convidaram para acompanhá-las a um centro espírita de Umbanda que elas faziam parte. Eu não tinha muito conhecimento sobre Umbanda, e minha tia me explicou.

Umbanda, uma religião que formou no Brasil através de escravos Africanos, é sincretizada com o Catolicismo. Quando os mestres de escravos obrigavam os escravos a adorar os santos católicos, os escravos se curvavam no altar, no entanto, quando suas cabeças tocavam o chão, eles adoravam as imagens de seus próprios deuses enterradas sob o altar. Na Umbanda, há um deus supremo chamado Olorum, também conhecido como Zambi. As divindades adoradas são chamadas Orixás. Cada Orixá é representado por uma cor ou um elemento.

Por exemplo: Oxalá (Jesus) é branco. Iemanjá (Virgem Maria) a deusa do mar é azul. Xangô (São João) deus do trovão é vermelho e marrom. Ogum (São Jorge) deus da guerra é azul escuro e verde. Existem legiões, falanges, linhas ou hierarquias como: Espíritos de escravos Africanos, crianças, ciganos e marinheiros. No entanto, “a esquerda” ou as forças das trevas devem ser adoradas também. Uma vez no mês, Exu (uma entidade demoníaca), é comemorado para garantir que ele continue a ser o guardião do templo de Umbanda chamado terreiro, controlando as forças das trevas. Pomba gira, é a parte feminina de Exu. (Espíritos Íncubos e Súcubos).

Isso me fascinou, e na semana seguinte, participei do meu primeiro serviço de Umbanda. Quando chegamos no templo, um prédio azul sem pretensões, esperamos lá fora com um grupo de médiuns. Muitas pessoas chegavam caminhando até a porta da frente. Olhei pela porta lateral, a entrada dos médiuns, e notei que as pessoas eram levadas para bancos. Uma cerca baixa, com um pequeno portão separava o terreiro, da área da congregação. Um grande altar chamado congá, pegava a maior parte da parede da frente do terreiro. Estava coberto com renda branca e com muitas estátuas de Orixás, velas e flores. Dois atabaques de madeira estavam a cada lado do congá.

Quando o Pai de Santo (o médium principal) chegou, minha tia me apresentou a ele. Era um homem baixo, gentil, e como todos os outros médiuns vestia roupas brancas e guias coloridas no pescoço. Ele segurou a minha mão, e fiquei intrigada pelo azul de seus olhos. Eu não podia piscar enquanto ele falava comigo. Hipnotizada pelo seu olhar, ouvia atentamente suas palavras, “Bem vinda irmã. Você vem das águas…filha de Iemanjá. Você está pronta para desenvolver sua mediunidade.”

Meu coração acelerou. Fiquei zonza. Algo mudou em minha alma. Existia nesse lugar uma forte presença espiritual, mas era diferente. Era lindo. Esperançoso. Calmo. Por fim, aos quatorze anos de idade, a busca do meu propósito na vida foi revelada.

Juntei-me com a congregação atrás do cercado. Meus pés não pisariam no solo sagrado do terreiro até ser convidada a entrar. A fumaça do incenso limpava o espaço de energia negativa. Os médiuns entraram, formando um semicírculo ao redor da sala. O Pai de Santo se curvou diante do altar batendo a cabeça na base por três vezes. Batendo no peito com o punho fechado, ele saudou os Orixás. Com giz na mão, ele ajoelhou desenhando um círculo com símbolos no chão de cimento. Quando ele terminou, uma vela acesa foi colocada no centro do pentagrama.

Batuque de atabaques trovoavam no terreiro. Corpos gingavam. O ritmo era acompanhado por palmas. Vozes cantavam em adoração aos Orixás. O Pai de Santo recebeu seu guia Xangô, batendo no peito em saudação. Falando em um idioma que soava africano, misturado com Português, convocava os espíritos. Ombros chacoalhavam. Corpos convulsavam, e contorciam em dança.

Meu coração parecia que ia explodir. A sala girava. Vibrações de correntes elétrica me faziam tremer incontrolavelmente. Xangô me ordenou entrar no terreiro. Alguém me disse para tirar os sapatos. Eu obedeci sem hesitar. No altar, me inclinei diante os Orixás.

Hiper ventilando, fiquei diante do Pai de Santo para receber o passe de energia. Senti meu corpo oscilar, e uma médium com os braços estendidos ficou atrás de mim. Por um momento perdi a consciência, e fui erguida do chão por dois outros médiuns. Uma canção de sereia ressoava ao meu redor em adoração a minha deusa, Iemanjá.

Minha vida era Umbanda. Umbanda era minha vida. Minha mediunidade estava desenvolvendo bem. Era o tempo mais feliz da minha vida, exceto a terrível saudades que sentia dos meus pais. Já tinha passado mais de um ano que deixamos a América, e eles ainda não tinham marcado data para voltar para o Brasil.

O próximo passo para meu progresso espiritual era ser batizada na cachoeira. Me disseram que as cachoeiras tinham tremenda vibrações e energia para limpar impurezas espirituais.

Na base do véu da cachoeira, fiquei diante do Pai de Santo. A rocha escorregadia era fria nas plantas dos meus pés. Não tinha medo de cair na piscina borbulhante abaixo. Ele segurava minhas mãos, invocando meu guia. Água frígida caia sobre minha cabeça curvada. Como um raio, Iemanjá me possuiu. Violentamente, minha cabeça jogava para frente e para trás. Meu cabelo comprido e molhado chicoteava meu rosto. Despertando do meu transe, senti êxtase total, repleta de alegria e paz.

FELICIDADE TRANSFORMA EM CAOS

E os videntes se envergonharão, e os adivinhadores se confundirão, sim, todos eles cobrirão os seus lábios, porque não haverá resposta de Deus” (Miquéias 3:7).

Ivani com 14 anos no Brasil quando foi doutrinada como médium em Umbanda

Alguns meses depois, meus pais voltaram para o Brasil. Este deveria ter sido o momento mais feliz de nossas vidas, mas logo, tudo mudou para o pior. Meus pais brigavam constantemente. Meu pai odiava o Brasil. Minha mãe adorava. Depois de alguns meses após sua chegada, meus pais, colocaram a decisão de ficar no Brasil ou voltar para a América nas mãos minha e da minha irmã. Se nós escolheríamos ficar no Brasil, minha mãe ficaria conosco, mas meu pai voltaria sozinho para a América. Mas se nós decidíamos voltar para a América, voltaríamos todos juntos. Este foi um grande peso para mim aos quinze anos, e para minha irmã de quatorze suportar. Mesmo que minha irmã estava apaixonada por um rapaz que namorava desde que chegamos, ela e eu concordamos que era melhor voltarmos todos juntos para a América. Os nossos corações estavam partidos. Ela pelo namorado. Eu pela Umbanda.

Antes de deixar o Brasil, o Pai de Santo me avisou que nunca deveria receber meu guia, a não ser que houvesse outro médium experiente presente. Eu concordei em manter essa promessa, sabendo ser impossível encontrar médiuns em Massachusetts. (Isso foi em 1975. Agora, médiuns e Centros Espiritas podem ser encontrados em quase toda América).

Depois de voltar para Massachusetts, meus pais compraram uma bela casa em uma colina, com um lago no fundo do quintal. Pela primeira vez em nossas vidas, minha irmã e eu tínhamos um quarto cada uma. Móveis e eletrodomésticos novos. Bons carros. No colégio reencontrei os antigos colegas, e namorei um rapaz por quem me apaixonei antes de voltar para o Brasil. Nós tínhamos muito em comum. Ele também imigrou do Brasil na década de 1960, e sua avó que morava em São Paulo, não muito longe da minha família, também era médium.

Por hora, todos estavam satisfeitos. Exceto minha irmã. Ela estava inconformada sem seu namorado. Depois de um ano, ela voltou para morar com meus avós no Brasil. Eu continuei adorando Iemanjá fielmente. Na praia oferecia flores a ela. Velas azuis eram acesas em sua homenagem. No meu quarto, sua estátua e a guia de contas azuis constantemente me faziam lembrar do meu amor pela Umbanda e pelos Orixás. Logicamente, eu ainda via vultos, continuava tendo paralisia do sono, e experiências de sonhos psíquicos vívidos. Mas através da Umbanda, eu acreditava que minha vida espiritual estava sob controle.

Quando minha irmã decidiu casar com dezesseis anos, meu pai não aceitou e escreveu para ela esperar. Mesmo porque, não podíamos nos dar ao luxo de fazer outra viagem cara para o Brasil naquele momento. Minha irmã insistiu em seguir com os planos de casamento. Aqui na América, nossas vidas começaram a desmoronar. Meus pais estavam à beira do divórcio. No dia do casamento da minha irmã, minha mãe quase enlouqueceu de tanto desgosto. A atmosfera em nossa casa era de opressão e depressão. Não importava o quanto eu pedia ajuda para Iemanjá, as coisas só pioravam.

Através de sonhos vívidos e sussurros no meu ouvido, criei desconfiança e ciúmes intenso do meu namorado. Como meus pais, nós brigávamos o tempo todo. Não havia paz. Nem alegria. Milagrosamente, nosso relacionamento sobreviveu aos meus constantes ataques de ciúmes e acusações.

Alguns meses depois, recebemos uma notícia maravilhosa. Minha irmã estava grávida. Os planos de chegar para o nascimento do bebê avançaram. Até meu namorado viajaria conosco. Logo depois da minha formatura do colégio, nós iríamos para o Brasil.

Logo após nossa chegada, minha irmã deu à luz a um precioso bebê. Ele viveu apenas quatro dias. Isso foi um tsunami devastador de dor. Inimaginável o sofrimento da minha irmã e cunhado.

As palavras dos médiuns dizendo que a vida do bebê foi curta por causa de seu espirito elevado, e que sua missão aqui na terra estava cumprida, não nos trouxe nenhum consolo.

Depois do enterro, eu visitei o terreiro de Umbanda. Durante as evocações, uma moça perto de mim ficou incorporada. Enquanto eu curvava minha cabeça tentando me concentrar para receber Iemanjá, a moça girou em dança golpeando meu rosto violentamente com o dorso da mão. Perdi minha concentração olhei para cima e recebi outro tapa. Sua agressão, uma artimanha mal disfarçadas através da dança selvagem. Lágrimas ardiam em meus olhos quando ouvi arfadas de surpresa, e risadinhas vindo da congregação. O Pai de Santo ficou diante de mim chamando Iemanjá por um longo tempo enquanto eu soluçava com raiva e vergonha. Eu sabia que ela tinha feito aquilo de propósito. Era impossível para mim, no meu estado emocional e contaminado, receber Iemanjá. E foi a última vez que visitei o terreiro de Umbanda.

Quando visitamos a avó do meu namorado alguns dias depois, seu guia espiritual me disse que eu não podia permitir que meu corpo permanecesse aberto. O espirito explicou que isso era perigoso, já que não frequentava regularmente um templo sob a direção de um médium experiente. Como um magnético, eu estava aberta para que entidades malignas entrassem no meu corpo. Devastada, fiquei relutantemente de acordo. Ela realizou o ritual para fechar o chakra onde espíritos entravam em meu corpo. Algum dia, poderia reverter o trabalho, e novamente abrir meu corpo.

Eu jurei nunca mais pisar no Brasil. Desiludida, após a perda de seu filhinho, minha irmã decidiu voltar para a América conosco. Seu marido aguardaria a documentação do visto.

Depois que retornamos para a América, minha vida tornou-se em um monte de cinzas de opressão sem esperança. Os fortes pilares da minha fé caíram por terra.

MEU PRIMEIRO ENCONTRO COM A LUZ

Quando alguém se virar para os adivinhadores e encantadores, para se prostituir com eles, eu porei a minha face contra ele, e o extirparei do meio do seu povo” (Levítico 20:6)

A primeira coisa que fiz, foi tirar Iemanjá da prateleira do meu quarto. Em uma caixa eu guardei a estátua junto com a guia de contas azuis. A partir desse momento, os ataques espirituais intensificaram e eu não sabia por onde procurar ajuda.

Depois de alguns meses, meu cunhado chegou na América, apenas um dia antes da grande tempestade de neve de 1978. Em junho, me casei aos dezenove anos. Nós compramos nossa primeira casa e tínhamos bons trabalhos. Saíamos e nos divertíamos com amigos e familiares. Mas por dentro, eu estava morta. Passava os momentos da vida sem alegria e sem paz.

Quatro anos depois meu filho nasceu. Minha filha quatro anos depois dele. Aparentemente nossas vidas pareciam perfeitas. Minha irmã também teve outro menino e uma menina, os dois lindos e saudáveis. Meus pais acertaram seu casamento, e curtiam seus netos. Mas espiritualmente todos nós girávamos em um buraco negro de desespero.

Meus pais, irmã, cunhado, meu marido e eu decidimos que precisávamos de uma mudança de cenário. Talvez mudando para a Flórida e começando uma nova vida em um clima tropical, nossos espíritos se elevariam. O inverno cinzento da Nova Inglaterra parecia cada vez mais longo.

A vida na Flórida foi ótima no início. Todos nós tínhamos lindas casas, piscinas e maravilhosas praias próximas. Mas logo, a contaminação espiritual voltou a nos perseguir. Até mesmo as crianças foram afetadas pelo inferno que nos rodeava noite e dia.

As vezes eles viam ou ouviam coisas que os assustavam. Sentindo a presença maléfica principalmente no meu quarto, meus filhos se recusavam a entrar no meu quarto a sós. Em muitas ocasiões, os socos na parede sobre nossa cama nos acordavam em pânico. Uma vez, sons de vidros quebrado como uma pedra atirada na janela nos fez pular da cama. Inspecionamos a casa inteira. Todas janelas estavam intactas, e não achamos nada quebrado, ou fora do lugar.

Eu vivia sempre irritada, amargurada e mal humorada. As pessoas pisavam em ovos tentando não desencadear meus repentes explosivos. Quando era contrariada qualquer coisa poderia acontecer. Eu era imprudente em meus ataques de raiva, principalmente quando dirigindo. As crianças agarravam firmes em seus assentos temendo por suas vidas. Quando meu sangue fervia, o que eu tinha na mão se transformava em um projétil através da sala. Minha histeria e loucura se transformava em culpa e vergonha quando a tempestade em minha alma acalmava. E por razões que não consigo entender, meu marido teve forças para tolerar meu temperamento violento por anos.

Minha saúde estava abalada a tal ponto que eu só tinha energia suficiente para trabalhar como enfermeira na sala de operações nos meus turnos. Quando chegava em casa, desmaiava no sofá, sem forças para cozinhar, limpar ou cuidar da família. Houve momentos que eu pensei em acabar com tudo, estimulada por vozes sinistras sussurrando que não havia esperança. Eu me sentia sem forças. Insignificante. O amor por meus filhos era a única razão que me impedia de saltar para o abismo.

Quando minha irmã me ligou dizendo que tinha conhecido um pastor brasileiro na Gráfica, minha suspeita aflorou. Ela estava emocionada descrevendo a bela oração que ele fez por ela. Ela me disse que depois que ele orou, ela sentiu uma paz como nunca havia sentido antes. Como um vulcão, palavras de ódio por esse homem que eu nem conhecia foram lançadas

da minha boca.

Eu a adverti que se afastasse dele. Sem dúvida era um charlatão atrás de dinheiro.

Isso não á dissuadiu de me explicar como ele também orou com meu sobrinho adolescente. E como o pastor o encorajou para casar com a namorada que ele tinha engravidado. Meu sobrinho estava de acordo com isso, e prometeu largar as drogas. Eu não acreditei nela. Eu mesma o tinha levado a um conselheiro profissional para ajudar com seu vício, sem resultados positivos.

Ela convidou o pastor para um café em sua casa no próximo sábado. Meus pais iriam estar lá também. E ela queria que nós participássemos da reunião. Eu recusei o convite.

Porém, depois de desligar o telefone, eu reconsiderei. Se esse santo homem pensava que podia entrar na minha família com seus ensinamentos hipócritas, eu estaria lá para confrontá-lo.

No sábado, cheguei na casa da minha irmã armada e pronta para lutar. Nós entramos e vimos o pastor, meus pais, irmã e cunhado na mesa tomando café e comendo bolo. Vendo o pastor se erguer da cadeira, vindo nos cumprimentar, fiquei congelada com o ódio que sentia por ele. Sem graça, minha irmã levantou da cadeira, “Pastor, essa é minha irmã, pela qual estamos orando”.

“Eu não lembro de ter pedido oração para ninguém.”

Imperturbável, o pastor estendeu a mão. Meu marido apertou a mão dele e foi para a mesa. Mas o pastor não se moveu quando ignorei sua mão. Durante nosso impasse, ele tocou meu ombro dizendo que o Senhor o trouxe para ajudar a mim e a minha família.

De repente, senti a forte presença do meu guia espiritual, como não sentia há anos. Fui alertada. Esta era uma emboscada do pastor. Ele era astuto e deveria ser derrubado. Era impossível permanecer próxima dele. Eu dei um passo para o lado, e fui em direção a área da piscina, dizendo ao meu marido para terminar seu bolo para nós irmos embora.

Bati com força a porta de correr de vidro, e sentei perto da piscina. Com as mãos trêmulas, acendi um cigarro. Minha ira pelo homem era insuperável. Segundos depois, a porta de vidro abriu. Eu não podia acreditar que o homem tinha me seguido lá fora com a Bíblia na mão.

Abruptamente, levantei da cadeira fazendo ele frear os passos. Meu rosto incendiou quando falei que não estava interessada em conversar sobre religião. Com uma calma absurda, o homem citou escrituras, “Clama a mim e responder-te-ei. Invoca-me no dia da angustia: Eu te livrarei. Ele te libertará e te honrará. Dar-lhe-ei abundância de dias, e te mostrarei a minha salvação”

Apaguei meu cigarro, e disse que não acreditava em um livro escrito por homens para controlar as pessoas através do medo e condenação. Além disso, ele não podia me manipular como fez com minha irmã e o resto da família, “Eu tenho um guia espiritual que me protege. Eu não preciso de religião”.

Passei por ele, mas ele me seguiu para dentro da sala. “Irmã, não existem guias espirituais”, ele abriu a Bíblia, apontando a página com seu dedo indicador dizendo, “esses que você crê são demônios”.

Eu girei para enfrentar minha família. Não estavam ouvindo? Não se ofenderam? Fiquei perplexa. Como que ninguém reagia com a arrogância desse estranho criticando nossas crenças? Com paciência minha mãe sugeriu que pelo menos eu ouvisse o que o homem tinha para dizer. E se isso fosse verdade? E se o que acreditamos a vida inteira não era de Deus? Minha cabeça latejava, e eu a apertei entre minhas mãos. A sala ficou em silêncio exceto pelos sons das páginas da Bíblia virando. Como ondas sísmicas, minha raiva aumentou. A última coisa que eu queria era dar a ele a satisfação de me ver perdendo o controle. Pegando minha bolsa, eu disse ao meu marido que íamos embora.

“Antes de você ir irmã, eu te desafio a ler com seus próprios olhos o que a palavra de Deus ensina há milhares de anos: “Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores, não os busqueis, contaminando-vos com eles: Eu sou o Senhor vosso Deus”.

Através de dentes cerrados, eu lhe relembrei que a Bíblia não significava nada para mim.

Finalmente, meu pai intercedeu e me disse para sentar. Todos esses argumentos não estavam nos levando a lugar nenhum. Ele sugeriu que o pastor perguntasse sobre as minhas crenças, antes de me julgar. Agora, enfim tinha um aliado. Sentei, e aceitei uma xícara de café oferecido por minha irmã.

“Está certo então,” ele tocou na Bíblia, “Bem, você não acredita no céu ou inferno, correto? Me diz, o que acontece com as pessoas quando morrem?”

Minha resposta foi óbvia: Os espíritos passam por vários estágios de evolução. O que ele chamava de demônios eram apenas espíritos obsessivos em dimensões paralelas aqui na terra. Eles não evoluem porque escolhem assim. Os espíritos de luz são superiores, espíritos evoluídos. Antes de nosso espirito alcançar a luz, serão necessárias muitas reencarnações.

Pegando a Bíblia, ele apontou um versículo e me pediu para ler. Mas eu cruzei os braços, recusando o pedido. Sorrindo, ele disse que a reencarnação não existia, “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”.

Alguma coisa nessas palavras atingiu meu interesse. E por um milésimo de segundo, eu queria ouvir mais. No entanto, com um abano de mão, eu disse a ele que era inútil tentar discutir o que eu acreditava com ele, se ele continuasse referenciando a Bíblia.

Quando chegou a hora dele ir embora, ele ofereceu orar por nós, pedindo a todos que dessem as mãos formando um círculo. Eu recusei. Mas com um olhar de advertência, meu pai pegou minha mão e meu marido a outra fechando o círculo.

Logo que o pastor começou a orar, o que eu imaginava ser meu guia espiritual de repente se manifestou. Gargalhadas saiam da minha boca sem controle. Por mais que eu tentava parar, mas eu ria. Através do meu transe, eu ouvi o pastor gritar, “Em nome de Jesus Cristo! Saia dela, espirito maligno!”

A entidade tomou controle total. Sentia muita dor, entrava em transe, e voltava a consciência. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Como eu podia ser possuída, se meu chakra tinha sido fechado anos atrás? Eu estava prestes a desmaiar. Meu coração disparava. Meu peito doía. O suor cobria meu rosto. Implorei ao pastor que parasse, pensando que era ele que fazia tudo aquilo.

Meu pai veio ao meu socorro e ordenou o pastor que me deixasse. Finalmente o espirito me soltou, e corri para o banheiro e vomitei, porém, não o café que tinha bebido a alguns minutos atrás, mas uma substância gelatinosa transparente.

Sentindo-me fraca e traída, eu disse a todos, em termos inequívocos, que nunca mais queria ver o pastor.

FINALMENTE LIVRE

E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios” (Lucas 8:30).

Depois da experiência na casa da minha irmã, eu comecei a duvidar sobre a identidade do meu guia espiritual. E sobre espiritismo em geral. Porque Iemanjá me atacava se era um espirito de luz—meu guia? Mesmo que não estivesse totalmente convencida, quebrou meu coração ouvir a dor na voz do meu marido quando ele sugeriu que pelo menos o pastor viesse a nossa casa para orar. Ele descreveu como fiquei horrivelmente distorcida e desfigurada enquanto possuída.

Meu filho adolescente e meu sobrinho testemunharam parte da minha possessão. Ambos estavam perturbados e imploraram para que eu deixasse o pastor me ajudar. Embora estivesse confusa e conflita, por amor a minha família, eu finalmente concordei com a sessão de libertação.

O pastor instruiu toda a família para jejuar, e permanecer em oração no dia da minha libertação, Sábado, 29 de março de 1997. Ele e sua esposa marcaram para estar em minha casa as cinco horas da tarde. Eu jejuei também, e tentei ler a Bíblia com capa de couro que ele me deu. Meu marido e filhos saíram para se juntar a meus pais, irmã e família na casa da minha irmã, permanecendo em oração de intercessão.

Enquanto só, eu tive dúvidas sobre a libertação. O pânico tomou conta de mim. Vozes sussurravam para eu fugir. Para sair antes ele chegasse. Eu peguei a Bíblia, mas não pude abrir. Tentei orar, mas minha mente ficou inundada com ameaças alarmantes. Incapaz de suportar a tensão por mais um segundo, peguei a chave do carro e corri para a porta. Quando abri, o pastor e sua esposa já estavam lá.

O pastor e sua esposa iniciaram o processo de libertação com orações e leitura das escrituras. Quando o pastor tentou me ungir com óleo, recuei ouvindo meus próprios gritos.

Lembro claramente somente poucas coisas sobre minha libertação. Mas, muitos detalhes me foram dados pelo pastor, e minha irmã que chegou depois que iniciou a libertação.

Passamos por toda a casa removendo coisas consagradas para o reino demoníaco que eu servi minha vida inteira. Imagens de minhas mãos passando por gavetas e armários, encontrando a caixa com Iemanjá e a guia de contas, o rosário na parede, roupas, joias, livros de ocultismo, discos, e vídeos sendo retirados, são minhas lembranças principais do evento. Lembro também, como em um sonho, agachada atrás de minha casa, cavoucando a terra com as mãos em busca de uma estátua de São José que estava lá enterrada de ponta cabeça (uma simpatia para vender minha casa).

Minha irmã, porém, relatou detalhes horríveis sobre a libertação. Fiquei transformada fisicamente, meus olhos tornaram negros de ódio, minha língua como de uma serpente saindo de uma boca destorcida, cuspindo e blasfemando Deus. Minhas mãos como garras ameaçando o pastor. Quando o pastor colocou um crucifixo na minha testa, o demônio ria de gargalhadas. Mas quando colocou uma cruz vazia, declarando a vitória de Jesus Cristo sobre a morte e Sua ressurreição, e que nossos pecados foram perdoados pelo Sangue derramado por Cristo, o demônio recuou em gritos de desespero. Gritava que estava sendo queimado e implorava por socorro. Momentaneamente, lembro ter aberto os olhos vendo a silhueta de uma cruz e ficando cega com uma luz brilhante como o sol, a ponto que cobri minha face com o braço.

Finalmente, quando o pastor gritou, “Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo que saia dela,” o jugo de fortaleza de Satanás em minha vida foi quebrado. Como uma bomba explodindo ao meu redor, meu corpo voou para cima, e eu fui jogada uma longa distância no corredor. Quando minhas costas bateram no chão de cerâmica eu abri os olhos. Surpreendentemente, a força do impacto não me feriu. Instantaneamente, um véu escuro levantou dos meus olhos. Eu fiquei sorrindo, admirando tudo ao meu redor. Agora eu entendia o que significava nascer de novo. Eu era uma nova criatura em Cristo. O velho se fez novo. Nunca antes senti tanta paz. Cristo realmente me libertou.

Fiquei surpresa quando vi minha irmã soluçando perto de mim. Não tinha ideia que ela estava presente durante a libertação. O ar cheirava a enxofre e fumaça. Eu olhei para o relógio. Eram duas horas da manhã. Me parecia ter passado somente duas horas, mas a libertação durou mais de oito horas. Quando meu marido chegou, a primeira coisa que ele notou foi muitos sacos de lixo cheios de coisas para serem queimadas. A segunda coisa foi o cheiro de fumaça na cozinha.

Mesmo que o pastor assegurava que eram resíduos de odor da libertação demoníaca, meu marido não acreditou, e correu para a geladeira, empurrando para fora da parede, certo que tínhamos um curto-circuito

O DIA DA MINHA RESSURREIÇÃO

Se com a tua boca confessares que Jesus Cristo é o Senhor e no teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo (Romanos 10:9).

O dia depois da minha libertação foi Domingo da Ressurreição. Mesmo que dormi apenas três horas, consegui acordar sem um despertador pela primeira vez em minha vida. Me sentindo renovada, saí correndo de casa para assistir meu primeiro culto de Ressureição durante o nascer do sol em um parque perto de casa. Cristo ressuscitou, Ele ressuscitou mesmo! Aleluia!

Jesus Cristo usou esse pastor missionário para trazer as Boas Novas da Salvação e libertação do ocultismo para muitos membros da minha família. Ele ministrou para nossa família na Flórida, em Massachusetts e no Brasil. Muitos foram salvos, e agora vivem para Cristo Jesus. Meus pais, minha irmã e sua família, eu e minha família todos aceitamos Jesus Cristo como Nosso Senhor e Salvador. Todos fomos batizados na piscina na casa da minha irmã.

Logo que nos convertemos, meus pais mudaram o nome da Gráfica de Pyramid Printing para Hosanna Printing. Depois que a Gráfica passou para mim e minha irmã, mudamos o nome para Redeemer Printing (Gráfica Redentor). Tudo para Sua Honra e Glória.

A MASCARADA DE SATANÁS

Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (Timóteo 1:9).

Hoje, quando olho para os rostos inocentes dos meus netinhos, eu estremeço só em pensar que eles poderiam ter herdado essas maldições demoníacas. Louvo a Deus por sua misericórdia e promessa de um amplo e infalível amor até mil gerações daqueles que o amam e guardam seus mandamentos (veja Deuteronômio 7:9).

Eu oro por você que leu meu testemunho e ainda não é salvo, para convidar Jesus Cristo em seu coração. Se você esteve, ou ainda está envolvido em qualquer tipo de ocultismo, incluindo horóscopos, tabuleiro Quija, cartomante, ou envolvimento em práticas de Nova Era, espiritismo, yoga, meditação oriental, magia de cristais, ou qualquer prática espiritual que não é bíblica, por favor peça ao Senhor que te liberte de tudo isso. Procure uma igreja que tenha estudo Bíblico, e peça a Deus direção em todas áreas em sua vida.

Creio que meu testemunho representa bem o grande perigo de práticas de ocultismo. Não muitos, (especialmente aqui nos Estados Unidos), ouviram falar em Umbanda, mas existem outras práticas alternativas e tradições espirituais que resultam em infestações demoníacas na mesma forma no coração e vida da pessoa. Infelizmente, o reino do ocultismo está espalhando de forma alarmante, infiltrando todas áreas da cultura moderna, incluindo escolas, área de saúde, e até em igrejas. O fato que muitos pastores ignoram este assunto, e fecham os olhos para este holocausto, é angustiante.

Muitos perguntam, como é possível curar doentes ou ajudar pessoas necessitadas vim de Satanás? A palavra de Deus nos ensina através de muitos versículos sobre as táticas que Satanás usa para iludir os incautos:

Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz.
Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem
(2 Coríntios 11:14, 15).

Até o Anticristo (chamado o “perverso ou iníquo”) que vai surgir no palco mundial nos últimos dias, terá o poder como é previsto nas escrituras:

O perverso chegará com o poder de Satanás e fará todo tipo de falsos milagres e maravilhas. E enganará com todo tipo de maldade os que vão ser destruídos(2Thessalonicenses 2:9-10).

Se você estiver envolvido em qualquer tipo de divinação, espiritismo, necromancia sendo trabalhos de médium, bruxas, ou até brincando com tabuleiro de Ouija, eu faço um apelo no amor de Deus para que se arrependa e rogue ao Senhor para te libertar destas práticas. A Palavra de Deus nos avisa que este tipo de idolatria (práticas ocultas ou adoração de falsas divindades) é pecado e uma abominação para Ele. Deve ser uma abominação para nós também. Tudo isso abre brechas e portas para atividades demoníacas em nossas vidas e nas vidas de nossos entes queridos. É uma rejeição direta do amor de Deus e autoridade em nossas vidas. Ponha atenção neste aviso da Bíblia:

Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus. E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo” (1 João 4:1-3).

O objetivo de Satanás é para usar suas astúcias e trapaças para desviar humanos da verdade de Deus, e salvação eterna. Mas quando colocamos nossa confiança em Jesus Cristo, e entregamos nossas vidas a Ele, nossos olhos serão abertos para Sua verdade.

Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tito 2:11-13).

 A gráfica da família onde um pastor fez uma encomenda de cartões de visitas e compartilhou o Evangelho. Não podemos saber quanto poder nossas palavras tem para transformar vidas quando testemunhamos o amor de Jesus.

RECURSOS ÚTEIS

  • Shreve, M. (2002). In Search of the True Light. Cleveland, TN: Deeper Revelation Books
  • Hunnemann, M. (2011). Seeing Ghosts through God’s Eyes: A Worldview Analysis of Earthbound Spirits.
  • Martin, W. (2008). The Kingdom of the Occult. Nashville: Thomas Nelson.

AGRADECIMENTO

Magda Bizinha, Tradução do Inglês para Português.

Escritura bíblicas usadas no artigo original em Inglês: THE HOLY BIBLE, NEW INTERNATIONAL VERSION®. Copyright© 1973, 1978, 1984, 2011 by Biblica, Inc.™. Used by permission of Zondervan

Você pode entrar em contato com a autora desta estória transformadora por e-mail: ivanigreppi@yahoo.com

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1 comment
  • Thank you so much Pastor Mike for posting the Portuguese translation of my testimony. Looking forward to the publishing of your testimony in Portuguese as well. God bless you and your ministry.

Written by dhewitt